Para os líderes, a sustentabilidade não deve ser apenas uma questão ambiental

05-12-2024

Líderes a precisarem de adaptar crenças, empresas a promoverem a inclusão, jovens a exigirem um impacto positivo, colaboradores a decidirem para onde vão: as mentalidades no trabalho estão a mudar.

O painel "Mudar mentalidades também contribui para a saúde do Planeta" trouxe à discussão as responsabilidades dos líderes e organizações na promoção da sustentabilidade. Realizado durante a conferência InNova Talks, organizada pelo Jornal Económico e Forbes Portugal, este painel contou com a participação de Milton Sousa, professor da Nova SBE, Filipa Santiago, HR Center of Expertise Leader na Natixis Portugal, Álvaro Alvarez, CEO da Michael Page, e Constança Santos Silva, under 30 da Forbes Portugal e presidente e fundadora da Thirst Project Portugal, que partilharam perspetivas sobre liderança sustentável, inclusão, ESG e o papel da nova geração no impacto ambiental.

A ideia que passou foi a de que a sustentabilidade não é apenas uma questão ambiental, mas também humana e cultural.

Milton Sousa: o papel do líder sustentável

Milton Sousa, professor na Nova SBE, destacou que a liderança sustentável exige mais do que competências técnicas. "Um líder sustentável é alguém que assume responsabilidade num sentido mais lato. É alguém curioso, que se atualiza constantemente, que transforma as organizações e assume um papel positivo na mudança," afirmou.

Para este docente, a sustentabilidade não é apenas uma necessidade ética, mas também estratégica. "O mercado de talento já forçou essa mudança. Há um 'shift' de poder; hoje, os líderes precisam de focar-se na sustentabilidade como forma de atrair e reter talento."

Milton Sousa enfatizou que liderar é um ato de proximidade e ação. "Os líderes precisam de sair dos seus Excel e das suas torres de marfim. Precisam de ir ao terreno, ver a realidade e encontrar soluções que realmente tenham impacto." O docente diz que "um líder é um poeta e um canalizador. Se a canalização não for tratada serve para muito pouco".

Outro aspeto central que sublinhou foi a mudança de crenças, que o investigador da Nova SBE considera o maior desafio na formação de líderes. "As competências aprendem-se, mas as crenças condicionam os comportamentos. O que custa mais mudar são os sistemas de crenças. Mudar crenças requer humildade, mas é essencial para criar líderes que beneficiem não só as empresas, mas também a sociedade," concluiu.

Filipa Santiago: sustentabilidade na cultura empresarial

Filipa Santiago, HR Center of Expertise Leader na Natixis Portugal, trouxe exemplos práticos da sua organização, que integra a sustentabilidade na gestão de pessoas e operações. "Desde a entrada do colaborador até à sua saída, tentamos levar a responsabilidade social e ambiental para a esfera pessoal," explicou.

Entre as iniciativas da Natixis, destacou o encerramento dos escritórios durante duas semanas em dezembro para reduzir o consumo de energia e a transição para uma frota 100% elétrica. Além disso, enfatizou a escolha de fornecedores locais e com políticas de ESG implementadas, como parte de uma visão de longo prazo.

Filipa Santiago sublinhou que a diversidade é essencial para a inovação. "Temos 40 nacionalidades na nossa equipa de 1.500 pessoas. Essa diversidade traz criatividade e desenvolvimento." Esta responsável também reforçou que a liderança pelo exemplo é essencial. "As ideias devem vir de baixo para cima e de cima para baixo. Precisamos estar abertos à mentalidade das novas gerações para implementar ações positivas para o ambiente," afirmou.

"Há estudos que dizem que empresas que olham para as questões de ESG têm um aumento de 20% em produtividade e engagement", apontou nesta conferência.

Alvaro Fernandez: liderança sustentável e inclusão no mercado de trabalho

Alvaro Fernandez, CEO da Michael Page, abordou as mudanças no mercado de trabalho. Segundo ele, os colaboradores estão mais exigentes quanto aos líderes e às empresas onde trabalham. "Hoje, não basta ter bons resultados. As pessoas avaliam os valores dos líderes e o impacto das empresas no ambiente. Pela primeira vez, os colaboradores escolhem os líderes e as empresas com base nos seus princípios," afirmou.

"De acordo com os processos de recrutamento, há três coisas que fazem diferença como fatores de escolha de um colaborador para trabalhar numa empresa: que assegure condições de trabalho boas, quer condições económicas, como benefícios sociais; que dê garantias de que satisfaça necessidades futuras do seu desenvolvimento profissional; e que fique claro qual a pegada ecológica que a sua colaboração com a empresa lhe deixará. Logo, as pessoas estão à procura com líderes com princípios", afirma.

No que toca à inclusão, Alvaro Fernandez apontou a importância de integrar grupos sub-representados, como profissionais acima dos 50 anos e pessoas com deficiência. "Damos um prémio a cada consultor que coloca alguém com mais de 50 anos. É um esforço para mostrar aos nossos clientes que esta é uma pool de talento valiosa."

Alvaro Fernandez reforçou que a diversidade não é apenas uma tendência, mas uma necessidade. "Empresas cotadas na bolsa pedem líderes e equipas diversas. O desafio em Portugal é incluir igualmente homens e mulheres, jovens e pessoas mais velhas."

Constança Santos Silva: o impacto sustentável no terreno

Constança Santos Silva, presidente e fundadora do Thirst Project Portugal, apresentou a história do seu projeto que começou quando ela tinha 16 anos e hoje é um movimento nacional focado na crise mundial de falta de água. "A sustentabilidade não é uma buzzword", afirma.

Constança salientou que a superficialidade não é uma opção quando se trata de sustentabilidade. "Temos de ir até ao fundo para garantir o sucesso a longo prazo. Nos países onde atuamos, construímos furos de água com empresas locais, saneamento básico e damos formação às comunidades para garantir o uso correto da água," explicou.

Constança Santos Silva, agora com 234 anos, abordou as prioridades das novas gerações. "Os jovens não se limitam a procurar trabalho. Querem saber o impacto ambiental da empresa e como os seus valores se alinham com os líderes," concluiu. 

Fonte: Sapo