Sustentabilidade é oportunidade de negócio para as PME
Estudos mostram que sustentabilidade está cada vez mais presente na vida das PME. Mudanças no mercado criam oportunidades para empresas com lideranças preparadas.
A sustentabilidade constitui, cada vez mais, uma oportunidade de crescimento e valorização para as PME nacionais que querem escapar à lógica da globalização que privilegia os preços mais baixos. Além do impulso da regulamentação crescente, o mercado e os clientes, sobretudo na Europa, valorizam cada vez mais empresas e produtos mais sustentáveis. Neste contexto, as PME que já estão neste caminho devem procurar apoios, criar redes e partilhar os bons exemplos, de forma a fazer crescer uma tendência que é claramente o futuro dos negócios.
Esta foi a mensagem de Nuno Megre, responsável de Sustentabilidade da Generali Tranquilidade, e de Filipa Pantaleão, secretária-geral do BCSD (Business Council for Sustainable Development) de Portugal, no primeiro videocast produzido no âmbito da Iniciativa SME EnterPRIZE – Prémio Europeu de Sustentabilidade para PME. Esta iniciativa da Generali Tranquilidade procura justamente promover práticas empresariais sustentáveis e apoiar o crescimento responsável das PME.
Sustentabilidade ambiental tem prioridade
Para Filipa Pantaleão, embora o conceito de sustentabilidade ainda esteja a ser implementado, e mesmo estruturado, dentro das PME, o interesse destas no tema é crescente, a julgar pela participação cada vez maior das PME em associações, estudos e redes que fomentam estas práticas. Também um estudo desenvolvido pelo Laboratório de Sustentabilidade da Universidade SDA Bocconi School of Management, implementado a nível europeu com o apoio do Grupo Generali, mostra números crescentes de PME a adotar estratégias de sustentabilidade, informa Nuno Megre. Na análise da responsável do BCSD, "muitas PME já começaram a calcular e a monitorar os seus dados ambientais, e estão agora a estruturar e a adaptar os seus negócios para responder às novas exigências". Já no pilar social, as empresas "seguem, na sua grande maioria, apenas a regulamentação e as leis". No pilar da governação, "ainda há um desconhecimento considerável, sobretudo na análise de riscos", refere.
As grandes puxam as PME
No entanto, existe um conjunto de dinâmicas económicas e políticas que estão a impulsionar a necessidade de as PME atuarem no caminho da sustentabilidade. Uma dessas dinâmicas, sublinhada por Nuno Megre, "é a pressão das grandes empresas, uma vez que muitas PME fazem parte das cadeias de valor de empresas maiores". Ou seja, "há uma exigência crescente, por parte das empresas clientes das PME, para que estas cumpram com os seus requisitos de sustentabilidade". É, portanto, "um processo em que as grandes puxam as pequenas, de forma gradual e natural", informa. Para Filipa Pantaleão, as PME podem contar com o aparecimento de mais programas, iniciativas e ferramentas de formação e capacitação para a sustentabilidade. O que ainda falta é escala. "Essa capacitação precisa de uma abordagem massiva e de ferramentas práticas que tornem mais simples a implementação dos novos conhecimentos nos seus negócios", afirma.
Liderança e cultura
Partindo do conhecimento da forma como a sustentabilidade é tratada dentro das PME, estes especialistas consideram que a questão dos recursos e dos conhecimentos necessários é um desafio importante, mas que os verdadeiros desafios para a adoção de práticas de sustentabilidade são outros. "Acredito que a cultura organizacional é um dos principais desafios", afirma a responsável do BCSD. Ou seja: "Existe uma vontade inicial e objetivos declarados, mas o caminho a fazer requer um nível de compromisso em toda a empresa que ainda não existe na maioria dos casos", explica.
Para ultrapassar esta questão, "a liderança é crítica", observa Nuno Megre. Para o responsável da Generali Tranquilidade, "a liderança tem um papel fundamental na criação de uma cultura organizacional focada na sustentabilidade". Quando um líder está comprometido e envolvido com estas questões, "isso facilita imensamente a disseminação dos valores de sustentabilidade e permite que eles sejam incorporados na cultura e na estratégia da empresa", diz.
O caminho faz-se caminhando
Na perspetiva destes responsáveis pode-se afirmar que as PME estão a fazer este percurso da sustentabilidade, mas que ainda há muito caminho para andar. Para Filipa Pantaleão as PME estão mais avançadas e atentas, enquanto outros assuntos ainda estão a ser negligenciados. Por exemplo: "As empresas estão já muito focadas na descarbonização, o que faz sentido, pois existe uma emergência climática e prazos a cumprir." Todavia, observa que "estão agora a perceber que existem inter-relações entre os temas". Atualmente, "a economia circular começa a ser uma prioridade, seguida de temas sociais, como a saúde e a segurança dos trabalhadores, e depois as questões de ética, e de governance", afirma.
Para Nuno Megre, esta é a dinâmica normal do caminho para a sustentabilidade – "essas áreas acabam por puxar umas pelas outras". Na sua análise, os temas ambientais surgiram "primeiro devido à urgência, mas rapidamente se percebeu que, ao combater o desperdício, por exemplo, se conseguem ganhos imediatos e tangíveis". Outras questões, como a eficiência energética, também oferecem resultados rápidos dentro do contexto da sustentabilidade. Porém, refere, à medida que vão avançando, "as PME enfrentam questões mais complexas e desafiadoras". "Mas, uma vez iniciado o processo, torna-se natural expandir a ação para outras áreas e enfrentar outros fatores de sustentabilidade", conclui.